quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Biografia de um coração partido.



Eu sempre fui o centro de tudo em todos.
Estava ali como comandante, dominando uma imensa área
e sempre me saí muito bem.
Eram poucas as vezes que um medíocre sopro me fazia parar em uma cama de hospital.
Isso era raríssimo!
Sempre fui normal, odiava levar multa dos outros órgãos por excesso de velocidade.
Até que um dia, [...]
Bom, um dia eu resolvi radicalizar.
Na verdade, não foi eu quem escolhi, me escolheram
ou simplesmente aconteceu.
Das minhas 100 000 batidas diárias, todas exageradamente rápidas, principalmente no período da
madrugada, 98% eram destinadas a alguém.
Os outros 2% eu deixava para satisfazer as doenças incuráveis.
Esses sofridos 98% eram do tipo "pau pra toda obra",
aguentava, aceitava e perdoava tudo.
Mas todo coração vive a base de bons cuidados.
E muitas vezes não era só o meu proprietário que poderia cuidar.
Devo admitir que ele fazia o possível para que eu não enfraquecesse.
Mas tinha o dono dele.
Todo bom e velho coração, além de um proprietário, tem um dono, que por sua vez, nunca proporciona os cuidados que ele merece.
Esses donos sempre acham que por terem outros corações não precisam oferecer cuidados aos nossos.
Logo eu, que sempre fui um coração sensível e fraco,
tive que aprender a transformá-lo em aço, para sobreviver.
Hoje em dia ele vive fraquinho, fraquinho.
Sustentado de fotos e lembranças, e de meras ligações.
E os outros 2%,
Ah, eles permanecem no mesmo lugar,
nesses dias ele inverte os papéis com os 98% e decide parar logo de uma vez.

Nathália Araújo.

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